terça-feira, 16 de setembro de 2008

Futebol de hoje é preparo físico, conjunto e planejamento

Cada vez mais o futebol está igualado no mundo. A bola globalizou. O Brasil ganha um dia do Chile de goleada no Chile e empata sem gols com a fraca Bolívia. Quem desponta na tabela das Eliminatórias não o Brasil, nem a Argentina e há tempo o Uruguai sumiu do mapa do futebol sul-americano. O Milan é recheado de estrelas e fracassa na arrancada do Italiano, o Grêmio sem jogadores brilhantes ofusca aqueles que mais investiram em grandes jogadores. Hoje ganha quem joga mais em conjunto e corre mais. A individualidade perdeu espaço para a forte marcação, a estratégia de preenchimento dos espaços e até mesmo a violência com doses homeopáticas que vão anestesiando grandes jogadores até que o time sofra um gol, se contamine e acabe perdendo o jogo, pontos e as competições.
Não tem fórmula mágica. Mas a base do bom futebol hoje é trabalho. Jogadores como Garrincha, por exemplo, só com o talento parariam nas faltas no conjunto. Claro que adaptado aos tempos modernos seria outro e com a habilidade que tinha poderia fazer chover na área adversária. Mas a bola precisaria chegar a Garrincha. Sem esquema, sem o furo do bloqueio no meio-campo, ele ficaria isolado com teias-de-aranha nos pés à espera de um lançamento.
O bom trabalho começa pelo bom profissional. Cumprir horário, ter disciplina, estar bem alimentado, dormir bem e bem preparado fisicamente. Alguns craques abusam das festas, comilanças, bebedeiras e até drogas porque superam a carência física com técnica apurada. Mas cada vez mais surgem jogadores de boa técnica com excelente condicionamento físico e acabam tendo longevidade e maior sucesso no futebol. Já era assim quando surgiu Pelé. Não apenas um gênio da bola, mas um atleta de luxo.
O planejamento de uma equipe de sucesso deve ter um elenco de jogadores profissionais. Não é igreja, nem convento, nem lugar para santos. Mas não há milagre com baderneiros e indisciplinados. Este é o papel do dirigente. Escolher a dedo bons profissionais e de boa técnica. Alguns craques são necessários para o momento da carência individual. São os craques que fazem a diferença no conjunto. Mas sem o conjunto eles não funcionam.
Formado o grupo a longo prazo, com contratos longos, cabe a direção blindar e se relacionar com o mercado da bola. Hoje jogadores estão prostituídos. O dinheiro compra tudo. Camisa, valores, história, berço, não existem mais. É preciso habilidade para perder peças e ganhar outras. Além disso, sem prejuízos aos cofres do clube. O pontapé inicial de uma jornada é a administração equilibrada de um clube. Como numa empresa ou numa família, gastar menos do que se arrecada já é um ótimo costume.
Tão importante quanto a escolha dos profissionais do campo, a escolha da comissão técnica. Hoje são o treinador e seu auxiliar, os preparadores físicos, fisioterapeutas, médicos, psicólogos, nutricionistas, massagista, roupeiro, treinador de goleiro, de falta, motivador e o que mais for necessário para manter a fábrica de gols a todo o vapor. É a industria que tem duas vertentes: marcar gols e impedir que os outros marquem gols.
O treinador hoje está muito valorizado, até demais. Ainda penso que é o jogador que resolve tudo. O técnico é um maestro da orquestra. Tem obrigação de dar o ritmo, escolher os melhores instrumentos para cada apresentação. Mas não é o técnico que bate o pênalti ou manda para escanteio. Entretanto, é um motivador, o orador maior, aquele que lidera o grupo. Um time sem um líder na casamata está fadado ao fracasso. Se justifica porque Carlos Alberto Parreira deu errado na última Copa. Não porque não entendia de bola. Mas porque, diferente de Felipão, permitiu a algazarra na Seleção.
Vale para clube e vale para Seleção. Planejar o ano e a competição é regra básica. Muricy Ramalho criticou nesta semana a Seleção porque recebeu o volante Hernanes completamente mole, sem vigor, frouxo. "Aqui no São Paulo trabalhamos com força, intensidade", bradou. Então, somente com um plano de vôo para cada ano e competição se chega ao céu.
Quando o Grêmio perdeu o Gauchão e a Copa do Brasil por antecipação, teve ao natural um prêmio. Tempo para preparar o time, para criar vergonha na cara e estar fisicamente bem melhor que os demais times do Brasileirão. O técnico Celso Roth chegou a falar, quando o time jogava um amistoso em Ivoti - pequena cidade da Grande Porto Alegre - que era necessário passar por aquela "fase de humilhação." Ali o time ganhou força, união, aquela raiva positiva de que precisava dar tudo de si para chegar a algum lugar. E neste aspecto o Grêmio é campeão. Ter garra, raça e sede de vencer, encarar um jogo como uma batalha, como se não fosse penas um jogo mas uma guerra.
Tanto é verdade que a carência de craques no Grêmio está fazendo falta agora. O time tem um conjunto marcador implacável e que acaba vencendo quando não deixa o adversário vencer. Mas quando o segredo é descoberto e o cansaço começa a bater em alguns jogadores, além de lesões, falta o detalhe, o gênio. Imaginem se no lugar de Marcel o Grêmio tivesse o Ronaldo Fenômeno no esplendor da sua forma física, não agora que está acima do peso e se recuperando de mais uma séria lesão. O que faria Ronaldo? Ou então se em vez de Tcheco fosse o Ronaldinho gaúcho dos bons tempos? Não precisaria mais ninguém. Com conjunto teria sucesso na maioria dos jogos e até mesmo numa tarde infeliz, teria Ronaldo ou Ronaldinho para resolver numa jogada genial.
Mas nada impede que o Grêmio ainda seja o favorito ao título do Brasileiro, nem que o Milan chega lá pela Itália. O importante é planejar bem para estar entre os melhores. No detalhe se ganha os títulos. Quanto mais decisões tiver pela frente, mais chances de ganhar.
Neste planejamento a longo prazo o preparo físico precisa ter um conjunto de atletas em evolução até o último jogo quando devem atingir o máximo do potencial físico. Isso quem me disse foi o pai deles: Paulo Paixão. Ele trabalha com um gráfico que abre com um percentual físico de mais de 50% do potencial máximo e isso já faz diferença na largada da competição. À medida que a competição anda, o potencial aumenta até o final. Percebe-se perfeitamente as equipes que não tem fôlego no segundo tempo das partidas. O Internacional com um amontoado de contratações, muitas de grande qualidade, tinha atletas ofegantes no segundo tempo dos jogos. E não era desculpa justificar que no campão do Ipatinga o time estava morto por isso também perdeu.
Além do preparo físico, a medicina esportiva tem hoje um papel essencial. Recuperar lesões rapidamente, prevenir lesões, remediar, é caminho para vitórias. Quantos times caem na competição porque o jogador-chave se lesiona. Se o Grêmio perde o goleiro Victor por lesão, o que acontece com a defesa do Grêmio? Alex do Inter quando se machuca, cai o rendimento do time do Colorado.
Depois disso tudo vem a novela do esquema tático, do posicionamento em campo, da substituição. Esta tem sido a principal discussão do dia-a-dia do futebol. Até porque está ali à frente dos olhos de qualquer torcedor. E é o quê alimenta os debates da TV, do Rádio, recheia as manchetes de jornais. Com ou sem três zagueiros? Com dois ou com três atacantes? Três volantes não é demais? Substituiu mal? Troca agora? Volta fulano de cartão e sai quem?
Quem jogou e conhece futebol precisa pelo menos enxergar o jogo. E aí está o grande desafio e a maior paixão do futebol. Cada dia é uma história diferente e, como na música, é preciso fazer o show com o que se tem. Tocar como dá. No caso do show, o objetivo é o aplauso, no futebol o aplauso é ganhar não interessa como.
Telê Santana deu um show na Copa de 82 e não ganhou. Parreira disse que o show é ganhar e não ganhou em 2006. O meu sonho é descobrir uma fórmula em que se dê show e ainda por cima se ganhe. Mas quem estiver na condição de dirigente não pode pensar assim. Precisa ter obstinação pela vitória, custe o que custar menos a desonestidade.
Hoje para obter sucesso no futebol é preciso buscar todos estes ingredientes do planejamento que são simples na teoria, mas difíceis de praticar. A dificuldade exige inteligência, liderança e experiência neste mundo da bola. No beabá do futebol eu também tenho meu esquema preferido, minha escalação que acredito que vai funcionar. Só que sem o planejamento não há idéia de jogo que funcione. Acabou o futebol arte. A arte que empresta talento ao futebol. Vide os dribles, chutes certeiros, defesas espetaculares. Mas hoje o show é planejar. E quem planeja está convidado para vencer ou no mínimo perder menos. É o primeiro chute para buscar o gol. Mesmo que não faça o gol, pelo menos pode não sofrer. Afinal, nem sempre o empate é um mau resultado. Depende do objetivo traçado. O zero a zero muitas vezes vale o título.

Um comentário:

Preparação Fisica no "Futebol" disse...

Olha concordo com vc hj o futebol é o preparo fisico msm sem isso os jogadores não chega a lugar nenhum parabens pela sua materia.