segunda-feira, 26 de maio de 2008
Au revoir, Guga Kuerten
Foto publicada no Caderno de Esportes do mais conceituado diário francês. Clique e veja artigo do Le Monde: Le leçons de vie de Kuerten
Caco da Motta
A bolinha parou. Ficou mais solitária do que nunca. Silêncio. Não se ouve mais o grito de Guga. Do vazio escorrem as lágrimas que inundam os olhos dos amantes do tênis. Mais que isso, dos apaixonados por um personagem-herói, que pendurou a raquete e, de quebra, engavetou a história mais sensacional do esporte brasileiro dos últimos tempos.
Um garrincha do saibro, um Pelé de Roland Garros, um Senna na adoração nacional, um Picasso do pó de tijolo, um guri simples como qualquer torcedor do Avaí e, acima de tudo, um orgulho para Florianópolis. Os domingos não serão mais os mesmos em Floripa, depois da despedida do manezinho das quadras. Pode ter praia, dar tainha, ventar o sul ou reaparecer, o furacão Catarina. Tudo será lenda da Ilha da Magia. Não, o neto da dona Olga vai estar longe do palco que o consagrou para sempre. O filho da Dona Alice, não tem? Não, ele não vai estar ao vivo no Sportv nem na ESPN Internacional. Tás compreendendo?
Mas tamanha façanha é esta capaz de colocar Guga nas princiais manchetes dos jornais do Brasil, da França e do Mundo, onde ele perdeu para um francês no jogo de estréia? É o reconhecimento natural de quem fez muito pelo esporte brasileiro com talento e simpatia. E ali na França, jogou como poucos, aliás como só ele. Não apenas em relação aos títulos, mas das apresentações de luxo e do grande senso de humor que deram à luz em Paris há 11 anos.
Até quando o técnico Larri Passos se emociona ao tirar do bolso uma garrafa com a terra do do piso onde Guga voou, ele brincou:
- Pensei que era um tipo de um energético, algo assim, hehe.
Riu e brincou para não mais chorar. Assim como se viu ao longo de sua brilhante trajetória. Aces de sorriso, saques de choro e emoções tão paralelas como a precisão de seus golpes, ora agressivos, ora suaves. Sempre espetaculares, ainda mais diante de adversários gigantes que quando derrotados por Guga nos enchiam de orgulho.
Quem chega perto de Gustavo Kuerten logo percebe que ali não está apenas um craque do tênis, mas um gênio do esporte. Foi através da alegria de jogar com lances sensacionais e palavras tão simples que traduziu o desejo de viver na plena felicidade. Mesmo agora, no momento mais difícil, ele até sentiu o peso do fim da carreira. Entretanto, quem lamenta somos nós. Guga é um exemplo de otimismo e força de vontade. E é isto que contagia, faz o durão William Bonner se derreter no encerramento do Jornal Nacional.
Guga vence até na derrota, comemora a eliminação precoce no último suspiro, é aplaudido de pé no templo de Roland Garros pelos franceses. Paris se esquece que quem venceu o jogo foi um francês, em meio a homenagem. Como é o nome dele mesmo, qual ranking? Não importa, quem ergue o chão como troféu é quem está no topo para sempre. Au revoir, Guga Kuerten.
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