terça-feira, 3 de novembro de 2015

A natureza da Natureza

                 Às vezes tenho a impressão de que passamos a vida inteira sem perceber a natureza da Natureza. Jamais a traduzimos em toda sua plenitude. Embora, haja aí a explicação de que o nosso tempo para contemplá-la por inteiro nunca será suficiente e, sendo assim, estamos aqui por um motivo especial. A cada dia tentamos entender o quê ela representa, a cada geração decifrar os seus mistérios. Apesar de toda a modernidade, da revolução industrial, do mundo tecnológico, ela está lá diante de nós quase como escrevendo sua história. Fala diversas línguas de um alfabeto infinito no qual temos dificuldades de ler seus fonemas tampouco juntar as orações.
               A primeira lição deste processo de alfabetização é descobrir nossa própria natureza e se despir de todos os conceitos. Não há regras, nem fórmulas, muito menos lógica. Somente desta forma é possível aguçar a sensibilidade para começar a sentir quais são as mensagens da Natureza. Um bom exercício é analisar os ventos. Eles são a voz dela. Os gritos representam os ciclones e furacões, o sussurro é um ventinho quase imperceptível, o minuano é quando assovia. Fala e sopra em diversas direções com propósito desconhecido, seja carregando frio ou calor. Ela é capaz de cuspir com a brisa e se manter em silêncio. São aqueles dias em que a janela está aberta nem as cortinas se mexem.
                 Quantos de nós já comparamos a chuva ao choro de Deus. Faz sentido, afinal as lágrimas da Natureza estão no Mar assim como o suor, tão salgados quanto os Oceanos. É bom lembrar que o choro nem sempre é triste. O maior de todos os sorrisos é quando tomados de emoção inundamos nossos olhos e sentimos o quanto é bom chorar. Nos rios está o sangue da Natureza numa circulação cheia de ramificações, afluentes que cortam o corpo de uma senhora cada vez mais maltratada. Mas o coração está lá no Centro da Terra quente e vivo, apesar de sangrar com frequência em erupções de vulcão, enfartar em tremores de terra e acima de tudo resistir.
         As flores são as crianças da Natureza. Tão coloridas, cheias de vida e recém brotadas. Os frutos são os jovens, brilhantes e atraentes. Os adultos são as folhas, mais equilibradas, algumas secas outras nem tanto. As árvores são os velhos. Nelas repousam todas as demais gerações de suas raízes, de uma semente, de uma primeira reprodução. Dão sombra e são a própria sabedoria. Se olhássemos para os velhos como admiramos um gigante Ipê Amarelo ou um Flamboyant no seu esplendor, já teríamos lido um capítulo importante da nossa história.
        No espaço, o calor do Sol representa o homem. A Lua que está sempre ao seu lado é a mulher. Ele é dia, ela é noite. Um é luz, outra é sombra. Pode parecer aqui uma interpretação machista a respeito do Sol em relação a Lua. Mas não. Ele brilha, enquanto ela reflete, dá a luz. O Sol seduz se expondo por inteiro. Ela não. Ora é cheia, ora é crescente, minguante ou é nova, quando temos que imaginar como ela está. E em todo o Espaço são únicas porque onde há milhares de estrelas, existem poucos satélites. E os planetas são outras naturezas de uma Natureza ainda maior, onde há cometas - os hiperativos do espaço - e as estrelas cadentes - os espermatozóides da via láctea.
         O papel dos animais e dos seres-humanos é enigmático diante de tantas metáforas e desta rica interpretação a respeito da Natureza. Mas é simples decifrar. Os animais são os nossos sentimentos. Os pássaros levam os nossos sonhos e sempre voltam ao ninho. Os peixes carregam nossos objetivos, é onde mergulhamos de cabeça sem respirar. Os mamíferos representam o nosso amor, afeto, amizade e ódio. É neles que estão os mais diversos tipos de relacionamentos seja para sobreviver ou para reproduzir. Os insetos são o nosso inconsciente, venenosos, peçonhentos, agitados, impulsivos, sem pensar.
Répteis, anfíbios, carnívoros, herbívoros. Não importa. Cada animal, cada nicho, cada bactéria é um pedaço de nós.
         Mas e os Seres-Humanos o quê são na Natureza? Somos os únicos que somamos todas as potencialidades da Natureza e capazes de pensar, agir não apenas por instinto. Mas quando não percebemos nos livros, nas escolas, na família, qual é a natureza da Natureza é porque não somos nada. E nada é tudo que pensamos que não somos quando na verdade somos a nossa própria Natureza.

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