quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Vem aí o maior espetáculo da Seleção de Ouro

O Brasil estréia nesta quinta-feira, 6h, contra a Bélgica nas Olimpíadas uma nova era do nosso futebol. Uma geração de jogadores exuberantes estarão em campo na China, onde lá é noite e aqui é dia. Como se fosse um eclipse, uma luz difusa entre o sol e a lua, uma transformação sobrenatural, o time comandado por Dunga estará se apresentando para o mundo num novo tempo, numa época em que a velocidade da bola é fórmula-1 e a precisão dos lances é tão milimétrica como um ace na linha da quadra de tênis ou uma tacada única de 300 metros do golfe onde a bolinha repousa no buraco como se fosse fácil da mesma forma que o Oscar, o Mão Santa, acertava de chuá uma cesta no basquete. O talento, ah este sublime jeito de conduzirmos a bola, de gingarmos com ela, este é o mesmo desde os primórdios. E vide Garrincha, Didi, Pelé e as gerações que vieram depois.
Mas como um cometa raro, o Harley, que passa a cada século tão poucas vezes, estamos diante de uma geração de ouro do nosso futebol. Ronaldinho Gaúcho, capitão do time, e tendo que se reabilitar, é uma espécie de Garrincha da era moderna. Faz malabarismo com a bola. Tá certo que enfeita demais, não tem os dribles do Mané - nem chega perto - mas é ousado com a bola, coloca onde quer, seja para o gol ou para servir de garçon tão generoso quanto aquele chopp de Copacabana que ultrapassa qualquer sombra da violência e ilumina a imaginação a ponto de apagar a escuridão da crise social. Sim é redundante, apaga a escuridão. Ela fica invisível diante da mágica do Gaúcho.
A geração de ouro tem um atacante comparável a Pelé. Parece ousadia, mas é só ver que fisicamente, tecnicamente e estatisticamente, o Alexandre Pato é sem dúvida o gênio deste time. Uma pedra preciosa que o companheiro Ronaldinho saberá lapidar.

Foto: Pato e Ronaldinho Gaúcho, adversários no Mundial Interclubes 2006, são a era de ouro do futebol. Agora juntos na Seleção e no Milan

Como todo o grande time moderno, há um volante de boa marcação e saída de bola eficiente. Hernanes é o que há de melhor num mundo do futebol nesta posição. Me lembra Falcão, um médio-volante de luxo, o maior que já vi jogar.
O meio-campo ainda tem Lucas e Anderson. O primeiro é mais raçudo, mas também faz gols, toca bem a bola e me faz lembrar não brasileiros, mas argentinos como Veron nos bons tempos. O segundo é muito habilidoso, driblador e a Europa deu a ele porte de jogador maduro apesar de jovem. Sem exageros, uma espécie de Maradona do Brasil. Na defesa, o maior destaque é Breno, tão frio quanto um zagueiro alemão e de boa técnica com a bola nos pés. Um Aldair melhorado. O goleiro Renan é instável. É uma posição delicada onde quando tudo parece certo, num lance o tudo vai por água abaixo. É muito bom jogador, mas temo pela sua vulnerabilidade. O que se viu no Gre-Nal, por exemplo, quando deu um chute no Rodrigo Mendes, foi espantoso para um goleiro promissor de Seleção.
Mas basta. Há equilíbrio no time. Tenho apenas uma contestação a fazer. Gostaria de ver o Thiago Alves no lugar de Diego. Seria como trocar o Dunga pelo Rivelino. O Thiago é mais decisivo, veloz, se impõe. Diego é outro que parece instável na Seleção. Talvez, por ser mais maduro, possa crescer no meio-campo do time Olímpico brasileiro. Pois então, o que quero dizer é que estes que comparo a tantos jogadores brilhantes de outros tempos vão fazer uma diferença enorme se estiverem logo entrosados. Lucas, Anderson, Hernanes, Ronaldinho e Pato. São jogadores tão a frente dos demais - Pato e Ronaldinho bem mais - que podem plantar na China a vaga definitiva na Seleção principal, de onde o quê há de melhor e não foi aos Jogos é Kaká. Robinho, lamento, não fará falta nenhuma. Obrigado, Real Madrid. Nesta Via Láctea Olímpica, as estrelas da geração de ouro vão brilhar. Mas é preciso calma, vão voar do terceiro jogo em diante por causa da falta de entrosamento.

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