segunda-feira, 10 de maio de 2010

Copa do Mundo, um sonho de criança

Vi este comercial da Pepsi e me lembrei. Desde 1978, a cada quatro anos tenho um gelo na espinha, um frio na barriga. É mais uma Copa do Mundo de futebol que chega. Nasci em 1968, mas não lembro da Copa de 70, do tri de Pelé. Sei o que já vi e revi dela na TV. De 1974, nunca me esqueço do meu pai trazendo uma TV Semp em cores e da cena das pessoas saindo de dentro de bolas, era a festa de abertura na Alemanha. A emoção dele me comoveu porque já tarimbado em copas, iria assistir pela primeira vez tudo colorido na televisão. Foi ele que me passou esta energia incrível de admirar os melhores do mundo. Ali nasceu minha paixão pela Copa do Mundo.



Não sou tão fascinado pela Seleção como pelos times, as jogadas, os craques. Eu torço pelos melhores. Claro, jamais vou querer que o Brasil perca, mas o que mais me atrai no futebol, principalmente em Copas do Mundo, é a qualidade, seja individual ou coletiva. Até porque desde os 6 anos de idade jogo futebol - hoje quase nem jogo - mas sei das dificuldades, de como é driblar, marcar, dominar, dar de bico, de rosca, calcanhar, de cabeça, das diversas combinações que vivi em campos, quadras e até mesmo em qualquer piso com qualquer tamanho de bola.
No meu colégio, o Anchieta, havia um futebol de pinha. A gente era tão maluco por futebol que chutava uma pinha durante o recreio e os gols eram bancos - estes de cimento iguais aos de jardim. O mais engraçado que o campo não tinha limite lateral, nem profundidade. Era todo o pátio e cada banco estava no meio de duas paredes que eram perpendiculares e não paralelas. Nós avançavamos em diagonal para o gol.
Copa por Copa, me lembro bem da de 78 na Argentina. Influenciado pelo meu pai, não gostei muito daquele time do Coutinho e não havia um craque que tivesse me chamado a atenção. Gostava muito do Valdomiro que jogava no Internacional, mas não na Seleção. Quem me chamou a atenção naquela Copa foi Ardiles. Ele jogava com a camisa número um porque a numeração dos argentinos era por ordem alfabética. O goleiro não era o número 1, era Ardiles que tinha uma habilidade impressionante e um passe milimetrado. Aquilo tudo me chamou a atenção. Vibrei com a atuação dele no filme "Fuga para a Vitória", ao lado de Pelé, Silvester Stallone entre outros. (É possível rever no You Tube. Ardiles fez um golaço neste vídeo que segue aos 5:20)



Em 1982, eu vi a maior seleção de todos os tempos do Brasil. Sei que Pelé foi o grande gênio, assim como considero Garrincha um monstro com a bola nos pés. E pensar que jogaram juntos em 58 e em 62, quando o Mané carregou o time porque Pelé se lesionou. Já havia àquela época uma marcação cerrada, menos que hoje, mas já era apertado chegar na área adversária. E jogadores como Júnior, Sócrates, Zico, Falcão e Éder jogavam demais. A Rússia tinha um goleiro que parecia imbatível, Dasaev. Mal estava Waldir Perez, que já tomou um frangaço no primeiro gol. Sócrates só venceu o goleiro russo porque mandou um canudo na última gaveta. Chutaço no ângulo. E no outro gol, na virada, um corta-luz sençacional de Falcão e um foguete de Éder. O Brasil teve um jogo duro com a Argentina mas Maradona não resistiu a marcação e deu um chute no "saco" do Batista e acabou expulso. O Falcão era o Pelé da era moderna, um pouco mais recuado. Mas gastava a bola. Vinha de uma temporada fabulosa pela Roma. Tinha classe, habilidade e ainda fazia gols importantes. Júnior foi o maior leteral esquerdo que vi jogar. Já era ala naquele tempo porque fazia uma espécie de meia esquerda recuada, lateral, ponta e até aparecia para fazer gols pela direita. O Zico nem se fala. Tanto na bola parada como na condução da mesma, demostrava extremo domínio, habilide e precisão. O chute era mortal, fora as acrobacias como no gol de bicicleta contra a Nova Zelândia.

Mas quem acabou me marcando para sempre naquele mundial foi Paolo Rossi. Um atacante de faro de gol impressionante. O Brasil vacilou e com três gols dele ficou fora do mundial. Lato e Boniek da Polônia também mostraram muita bola naquela Copa. E já habitava o planeta bola o francês Michael Platini. Outro grande jogador era o goleiro Schumacher da Alemanha. Chorei muito aquela derrota para a Itália e no dia da decisão vi Falcão, já em Porto Alegre, na minha rua de Miúra dourado buscar uma prima loira de um vizinho amigo meu. Quase falei para ele que eu e outro grande amigo, o Carlo, fazíamos uma tabelinha ali naquela porta de garagem. Eu era o Falcão e ele o Éder. Ainda não fui à Copa, mas casei com uma loira.
Em 1986, decidi comprar uma bandeira verde-amarela. Agora, vamos ganhar. A compra foi feita no dia do jogo contra a França. Eu ainda não me conformava com o corte do Renato Gaúcho pelo Telê Santana. Queria ver Renato, Casagrande e Éder. Mas fui para o sofrimento. Perdemos nos pênaltis. Até o Platini errou, mas não foi suficiente. Foi o fim da minha era como torcedor da seleção brasileira. A mágoa era tão forte que o dia que saí de casa para morar em Santa Catarina, em 1994, minha mãe me mostrou a bandeira que estava jogada num armário.
- Caco, não vai levar esta bandeira?
- Nem pensar mãe, nem pensar, nunca mais me iludo com Seleção.
A esta altura já não sonhava mais em ser jogador de futebol nem médico como meu pai. Descobri o jornalismo e principalmente o rádio por causa do futebol, da Copa do Mundo. Já em 1990 estava na rádio Gaúcha como estagiário da equipe de esportes, não na Copa, mas na cozinha ajudando o plantão Érico Sauer. Tinha 18 anos, poderia estar jogando bola, namorando, indo surfar, ficar com a família. Não. Todos os domingos estava ao lado do Érico e muitas vezes do Ítalo Gall para fazer rádio-escuta de jogos, atualização de resultados pelo telefone e até buscando um café.
Ali era minha Copa do Mundo do jornalismo. Por mais que eu admirasse os narradores da TV, o Silvio Luiz era meu preferido, e alguns colunistas nacionais como o Armando Nogueira e caras da Rádio Guaíba. Na retaguarda da Gaúcha, eu comecei a trabalhar com uma seleção espetacular de jornalistas. Os narradores eram o Armindo Antônio Ranzolin, o Haroldo de Souza e o Roberto Brauner. O Pedro Ernesto Denardin já era um grande comunicador no Show dos Esportes. O Antônio Carlos Macedo era tão bom repórter que fazia esporte e jornalismo na reportagem e na apresentação e ainda é o que mais sabe montar um programa com informação. Já despontavam o Sílvio Benfica e três garotos o Sérgio Boaz e o Farid Germano Filho na reportagem e o José Alberto Andrade na produção e o já experiente setorista tradicional Régis Hoier. Os comentaristas eram Ruy Carlos Ostermann, o Lauro Quadros e o João Carlos Belmonte.
No time do sala de redação havia o Ruy, o Lauro, o Paulo Santana, o Kenny Braga e o Cláudio Cabral. Um timaço tão bom quanto aquele que tinha Osvaldo Rolla, Ibsen Pinheiro e Cid Pinheiro Cabral. Eu não tinha horário, passava dias e noites ouvindo e sugando estes caras. Eu era um pentelho. Eles deviam me odiar: "Lá vem aquele guri, curioso." Mas aprendi muito. Quem gostava de dividir conhecimento era o Cândido Norberto, um craque do rádio. Era um senhor jornalista e ouvi muitas histórias dele. Outro que compartilhava conhecimento era o Cláudio Cabral. Ele escrevia e me mostrava: aprende aí guri, que tal? O Lasier Martins também sempre gostava de relembrar os tempos de repórter e as experiências dele no futebol.
Então, na Copa de 90 nem consegui torcer, estava ali na retaguarda de olho em todos os outros jogos. Foi a Seleção mais sem sal que vi jogar. Não gostava do Muller, do Lazaroni, de quase nada. O time não me empolgava. A salvação foi o Pelé africano: Roger Milla. Que explosão para arrancar para o gol. Se ele tivesse saído de Camarões e tivesse jogado no Flamengo por exemplo. Talvez, tivéssemos visto um sexto gênio da bola bem de perto. Os outros cinco são Pelé, Garrincha, Romário, Maradona e Zidane que seguirei falando neste Blog, na segunda parte de Copa do Mundo, um sonho de criança.

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