Não sou tão fascinado pela Seleção como pelos times, as jogadas, os craques. Eu torço pelos melhores. Claro, jamais vou querer que o Brasil perca, mas o que mais me atrai no futebol, principalmente em Copas do Mundo, é a qualidade, seja individual ou coletiva. Até porque desde os 6 anos de idade jogo futebol - hoje quase nem jogo - mas sei das dificuldades, de como é driblar, marcar, dominar, dar de bico, de rosca, calcanhar, de cabeça, das diversas combinações que vivi em campos, quadras e até mesmo em qualquer piso com qualquer tamanho de bola.
No meu colégio, o Anchieta, havia um futebol de pinha. A gente era tão maluco por futebol que chutava uma pinha durante o recreio e os gols eram bancos - estes de cimento iguais aos de jardim. O mais engraçado que o campo não tinha limite lateral, nem profundidade. Era todo o pátio e cada banco estava no meio de duas paredes que eram perpendiculares e não paralelas. Nós avançavamos em diagonal para o gol.
Copa por Copa, me lembro bem da de 78 na Argentina. Influenciado pelo meu pai, não gostei muito daquele time do Coutinho e não havia um craque que tivesse me chamado a atenção. Gostava muito do Valdomiro que jogava no Internacional, mas não na Seleção. Quem me chamou a atenção naquela Copa foi Ardiles. Ele jogava com a camisa número um porque a numeração dos argentinos era por ordem alfabética. O goleiro não era o número 1, era Ardiles que tinha uma habilidade impressionante e um passe milimetrado. Aquilo tudo me chamou a atenção. Vibrei com a atuação dele no filme "Fuga para a Vitória", ao lado de Pelé, Silvester Stallone entre outros. (É possível rever no You Tube. Ardiles fez um golaço neste vídeo que segue aos 5:20)
Em 1982, eu vi a maior seleção de todos os tempos do Brasil. Sei que Pelé foi o grande gênio, assim como considero Garrincha um monstro com a bola nos pés. E pensar que jogaram juntos em 58 e em 62, quando o Mané carregou o time porque Pelé se lesionou. Já havia àquela época uma marcação cerrada, menos que hoje, mas já era apertado chegar na área adversária. E jogadores como Júnior, Sócrates, Zico, Falcão e Éder jogavam demais. A Rússia tinha um goleiro que parecia imbatível, Dasaev. Mal estava Waldir Perez, que já tomou um frangaço no primeiro gol. Sócrates só venceu o goleiro russo porque mandou um canudo na última gaveta. Chutaço no ângulo. E no outro gol, na virada, um corta-luz sençacional de Falcão e um foguete de Éder. O Brasil teve um jogo duro com a Argentina mas Maradona não resistiu a marcação e deu um chute no "saco" do Batista e acabou expulso. O Falcão era o Pelé da era moderna, um pouco mais recuado. Mas gastava a bola. Vinha de uma temporada fabulosa pela Roma. Tinha classe, habilidade e ainda fazia gols importantes. Júnior foi o maior leteral esquerdo que vi jogar. Já era ala naquele tempo porque fazia uma espécie de meia esquerda recuada, lateral, ponta e até aparecia para fazer gols pela direita. O Zico nem se fala. Tanto na bola parada como na condução da mesma, demostrava extremo domínio, habilide e precisão. O chute era mortal, fora as acrobacias como no gol de bicicleta contra a Nova Zelândia.
Mas quem acabou me marcando para sempre naquele mundial foi Paolo Rossi. Um atacante de faro de gol impressionante. O Brasil vacilou e com três gols dele ficou fora do mundial. Lato e Boniek da Polônia também mostraram muita bola naquela Copa. E já habitava o planeta bola o francês Michael Platini. Outro grande jogador era o goleiro Schumacher da Alemanha. Chorei muito aquela derrota para a Itália e no dia da decisão vi Falcão, já em Porto Alegre, na minha rua de Miúra dourado buscar uma prima loira de um vizinho amigo meu. Quase falei para ele que eu e outro grande amigo, o Carlo, fazíamos uma tabelinha ali naquela porta de garagem. Eu era o Falcão e ele o Éder. Ainda não fui à Copa, mas casei com uma loira.
Em 1986, decidi comprar uma bandeira verde-amarela. Agora, vamos ganhar. A compra foi feita no dia do jogo contra a França. Eu ainda não me conformava com o corte do Renato Gaúcho pelo Telê Santana. Queria ver Renato, Casagrande e Éder. Mas fui para o sofrimento. Perdemos nos pênaltis. Até o Platini errou, mas não foi suficiente. Foi o fim da minha era como torcedor da seleção brasileira. A mágoa era tão forte que o dia que saí de casa para morar em Santa Catarina, em 1994, minha mãe me mostrou a bandeira que estava jogada num armário.
- Caco, não vai levar esta bandeira?
- Nem pensar mãe, nem pensar, nunca mais me iludo com Seleção.
A esta altura já não sonhava mais em ser jogador de futebol nem médico como meu pai. Descobri o jornalismo e principalmente o rádio por causa do futebol, da Copa do Mundo. Já em 1990 estava na rádio Gaúcha como estagiário da equipe de esportes, não na Copa, mas na cozinha ajudando o plantão Érico Sauer. Tinha 18 anos, poderia estar jogando bola, namorando, indo surfar, ficar com a família. Não. Todos os domingos estava ao lado do Érico e muitas vezes do Ítalo Gall para fazer rádio-escuta de jogos, atualização de resultados pelo telefone e até buscando um café.
Ali era minha Copa do Mundo do jornalismo. Por mais que eu admirasse os narradores da TV, o Silvio Luiz era meu preferido, e alguns colunistas nacionais como o Armando Nogueira e caras da Rádio Guaíba. Na retaguarda da Gaúcha, eu comecei a trabalhar com uma seleção espetacular de jornalistas. Os narradores eram o Armindo Antônio Ranzolin, o Haroldo de Souza e o Roberto Brauner. O Pedro Ernesto Denardin já era um grande comunicador no Show dos Esportes. O Antônio Carlos Macedo era tão bom repórter que fazia esporte e jornalismo na reportagem e na apresentação e ainda é o que mais sabe montar um programa com informação. Já despontavam o Sílvio Benfica e três garotos o Sérgio Boaz e o Farid Germano Filho na reportagem e o José Alberto Andrade na produção e o já experiente setorista tradicional Régis Hoier. Os comentaristas eram Ruy Carlos Ostermann, o Lauro Quadros e o João Carlos Belmonte.
No time do sala de redação havia o Ruy, o Lauro, o Paulo Santana, o Kenny Braga e o Cláudio Cabral. Um timaço tão bom quanto aquele que tinha Osvaldo Rolla, Ibsen Pinheiro e Cid Pinheiro Cabral. Eu não tinha horário, passava dias e noites ouvindo e sugando estes caras. Eu era um pentelho. Eles deviam me odiar: "Lá vem aquele guri, curioso." Mas aprendi muito. Quem gostava de dividir conhecimento era o Cândido Norberto, um craque do rádio. Era um senhor jornalista e ouvi muitas histórias dele. Outro que compartilhava conhecimento era o Cláudio Cabral. Ele escrevia e me mostrava: aprende aí guri, que tal? O Lasier Martins também sempre gostava de relembrar os tempos de repórter e as experiências dele no futebol.
Então, na Copa de 90 nem consegui torcer, estava ali na retaguarda de olho em todos os outros jogos. Foi a Seleção mais sem sal que vi jogar. Não gostava do Muller, do Lazaroni, de quase nada. O time não me empolgava. A salvação foi o Pelé africano: Roger Milla. Que explosão para arrancar para o gol. Se ele tivesse saído de Camarões e tivesse jogado no Flamengo por exemplo. Talvez, tivéssemos visto um sexto gênio da bola bem de perto. Os outros cinco são Pelé, Garrincha, Romário, Maradona e Zidane que seguirei falando neste Blog, na segunda parte de Copa do Mundo, um sonho de criança.
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