Messi: argentinos contam com melhor jogador do Mundo na Copa de 2010
Lembro-me bem da entrevista que fiz com Ademir Menezes, o queixada, pelo Diário Catarinense em 1994 antes da Copa dos Estados Unidos, quando ele já cuidava da saúde nas águas quentes em um hotel em Santo Amaro da Imperatriz. Nunca vou esquecer do pânico que ele tinha das equipes da América do Sul. Goleador da Copa de 50, com 9 gols, ele tinha motivos para odiar o confronto com nossos vizinhos. Poderia ter se consagrado naquele mundial realizado no Brasil, mas um gol do Gighia calou o Maracanã e pôs fim ao sonho do primeiro caneco. Mas guardei aquele medo comigo que o velho Ademir levou com ele para sempre no dia 11 de maio de 1996.
Esta Copa da África do Sul tem mostrado que as seleções sul-americanas estão muito bem preparadas e em condições de seguir adiante. Ninguém perdeu até aqui. O Brasil e a Argentina têm duas vitórias cada, o Paraguai e o Uruguai, uma vitória e um empate cada e o Chile tem uma vitória. Todos são líderes em seus grupos até aqui. Nas Eliminatórias, o Brasil deu um show e ganhou de todos que estão na Copa na casa deles, exceção foi o Paraguai que nos bateu por 2 a 0. A outra derrota foi para Bolívia na altitude. Mesmo assim, acho perigoso o confronto direto com qualquer uma destas seleções. Do jeito que está, poderíamos pegar o Uruguai na semifinal e a Argentina somente na decisão.
O argumento de Ademir não era apenas o trauma de 50, mas o fato de os argentinos, uruguaios e demais sul-americanos de jogar com habilidade, partir para cima, catimbar e não sofrer tanto com a nossa ginga como os europeus. Segundo ele, é muito mais fácil driblar um alemão, um sueco que um vizinho próximo. Acrescento a esta análise uma questão cultural: os países de língua latina possuem um futebol mais versátil, habilidoso. É como se nós jogássemos redondo e os demais quadrado.
Os dribles da Alemanha, da Holanda e da Inglaterra são secos, retos. Nós não. Fazemos um movimento bailado que costuma quebrar a marcação adversária. O mesmo vale para os franceses de Platini e Zidane, os italianos de Roberto Baggio e Paolo Rossi,
os portugueses de Euzébio e Cristiano Ronaldo e até mesmo os romenos do maestro Gheorghe Hagi, o Maradona dos Cárpatos.
Em tempos de globalização, porém, cada vez mais estamos ficando mais quadrados e os adversários mais redondos. A Holanda ao longo dos anos tem aprimorado seu estilo graças também a presença dos negros que trazem outro ritmo ao jogo. O mesmo vale para Alemanha que já nesta Copa se mostra menos fria e por isso menos imprevisível e fraca nos pontos em que era forte: marcação, toque de bola, arremates precisos. Os próprios africanos estão estragando seu jogo com uma excessiva preocupação com a marcação, sem ousar em dribles em jogadas individuais como fazia Roger Milla de Camarões. A influência européia e até do Parreira na África do Sul travaram o futebol alegre e mesmo irresponsável dos africanos que agora são apenas cautela.
Ainda é cedo para definir quem será bem sucedido daqui para frente neste Mundial e nos próximos anos no futebol. O caminho é encontrar o equilíbrio entre o que sempre tivemos de melhor e os europeus nos ensinaram. É importante ter posse de bola, resguardar a defesa, mas é fundamental ter habilidade, dribles e jogadas pelas pontas para buscar gols e vitórias. E nada melhor que contar com craques que saibam fugir da perseguição implacável das defesas e dos volantes. O mais hábil do time brasileiro é Robinho. Mas é bom lembrar que a Argentina tem Lionel Messi, hoje o melhor jogador do mundo. Na fase de mata-mata, é que veremos se o talento vai vencer a estratégia defensivista. No futebol, o jogo truncado e feio também costuma vencer. Torço sempre pelo show de bola, esta é minha bandeira.
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