Onze anos depois de conquistar o primeiro grande título em Roland Garros, Guga volta ao Aberto da França para encerrar a carreira mais espetacular do tênis brasileiro. Não quero menosprezar Maria Esther Bueno, mas Gustavo Kuerten surgiu na era do tênis moderno, com transmissão ao vivo pela TV para todo o mundo e foi campeão Mundial vencendo o maior tenista da era moderna, Pete Sampras, e talvez aquele que foi brilhante em todos os pisos, Andre Agassi. Reinou em Roland Garros e está na galeria dos grandes nomes da história deste esporte individual. Foi uma vitória mais que pessoal, foi desumana, lunática. O guri de Florianópolis virou gênio da raquete da bolinha, com um técnico que fora boleiro, sem o pai pai que apostou nele e sem qualquer tradição num País do Futebol.
O Brasil sempre foi pífio no tênis antes de Guga. Que me perdoem Thomaz Koch, os Jaiminho, Fininho, Mattar, Motta, Kirmayr e tantos outros coadjuvantes em grandes torneios mundiais. Nunca ganhamos uma Copa Davis, nem mesmo com Guga, porque Davis é equipe; nunca chegamos ao topo do ranking, tampouco ganhamos troféus de renome. Éramos os Camarões da Copa no Circuito Mundial. Chegar à Copa do Mundo é tudo para os africanos, ganhar é sonho. Chegar a um Grand Slam, cumprimentar John McEnroe, Jimmy Connors, Arthur Ashe, Ivan Lendel, Bjorn Borg, Sampras, Agassi já era um trunfo. Claro, um ou outro venceram grandes adversários, mas ganhar um Grand Slam antes de Guga, era zebra do Brasil. E nunca teve zebra a fovor do nosso tênis.
No tênis, o time é o jogador, o gol, a cesta, o ponto, é fracionado em 15, 30 e 40 para se chegar ao game de onde se fecha o set e num Grand Slam, numa melhor de cinco, se fecha o jogo. Guga atropelou adversários em pisos de saibro, cimento e carpete. Por ironia, na grama, onde reinamos no futebol, Kuerten era azarão. Mas têm uma explicação: o estilo Guga surfava no pó de tijolo e jogava por música em pisos mais duros. Saque preciso, uma esquerda indefensável e golpes fortíssimos de fundo de quadra. Um mostro, como se diz no jargão popular da Ilha de Santa Catarina. Não foi à toa que o russo Eugeni Kafelnikov afirmou que Guga era Picasso, pintava quadros na quadra.
Mas o cubista do saibro, teve uma lesão grave no quadril e nunca mais foi o mesmo. Agora, apresenta um projeto em parceria com o Banco do Brasil para o desenvolvimento do tênis brasileiro. Guga é o único capaz de ajudar o tênis brasileiro porque realmente não temos tradição e cultura para o desenvolvimento deste esporte nobre. O manezinho já fez muito quando transformou uma modalidade estranha à população a uma paixão quando ele estava em quadra. Mesmo quem não entendia a contagem dos pontos, vibrava a cada sorriso do Guga, a cada vitória. O tênis brasileiro nunca mais será o mesmo depois disso. E antes que os franceses se manifestem... merci, Guga. Merci.
Nenhum comentário:
Postar um comentário