Assim que o ônibus desceu dos 4100 metros de altitude para os 3600 do aeroporto o cenário me chamou a atenção. Não via vegetação, apenas um terreno arenoso cor de argila clara, aquele barro meio cor de café com leite. Muita gente a pé, mulheres com crianças às costas e casas a quilômetros de distância sem ruas para carros, com acesso somente a pé. Nunca vou esquecer a imagem do estádio lotado e a torcida gritando Bo-Li-Via. Cada fatia da arquibancada correspondia um terço. E a cada sílada, tambores soavam no mesmo local. Foi a primeira torcida estereofônica que ouvi. Era um coro com uma sequência cada vez mais rápida. Bo.....Li.....Via, depois Bo..Li..Via e aí Bo-Lí-Via e Tum, Tum, Tum acompanhando.
Nos bares, refri e cerveja long neck CBN, as mesmas inicias da rádio que representava como repórter ao lado do narrador Salles Jr. Era a CBN Diário 740 de Florianópolis. Foi a primeira transmissão internacional da emissora, antiga Diário. Na verdade as letras significavam Companhia Boliviana de Cerveja. Muito boa, por sinal. Os lanches chamavam a atenção. Havia uma espécie de assado suíno que era descascado de uma forma bem primitiva - superou o nosso churrasquinho de gato. Aquilo ia num pão, com catchup, mostarda e outros condimentos, fora a prensa na mão do cara que tinha a unha negra. Não era tinta, era suja mesmo. Nestas horas, o jeito era almoçar Coca-Cola e chocolate, tudo industrial.
Mas não me arrependo de ter tomado chá de mate de coca. Foi o que me deixou mais disposto para encarar a altitude e que me deu pique para invadir o gramado ao final do jogo e ser o primeiro repórter de rádio do Brasil a ouvir os jogadores no campo após vitória de 3 a 1. Tive sorte aquele dia. E por pouco não tomei um soco do atacante Echeverry que fechou o punho quando perguntei sobre a derrota. Mas a Bolívia tem um povo acolhedor que nos recebeu muito bem em Santa Cruz de la Sierra. Pena que as fotos que tenho são todas impressas e não tenho um scanner para digitaliza-las agora. É lá que hoje o Brasil enfrenta a Bolívia pelas Eliminatórias. La altitud é sempre um obstáculo. Acabei tomando uma dose de oxigênio no aeroporto na volta. A melhor coisa que pode existir é poder respirar depois de tanta falta de ar. Entendi os asmáticos, que sensação desagradável. O Brasil precisa correr a bola, gritar o mínimo possível. Dunga sabe bem, pois foi ele o mestre daquele jogo. Comandou o time por mímica, apontando para um lado e para o outro, sem gritar. Quem sabe hoje ele grita à vontade do banco porque não precisará correr. Vamos ver Nilmar e o Adriano voando na Lua! Quero dizer: em La Paz.
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